quarta-feira, 21 de abril de 2010

A obra

LIVRO DO DESASSOSSEGO



               “A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros. Desconhecíamos-nos, como se houvéssemos aparecido às nossas almas depois de uma viagem através de sonhos...”

                                                   Trecho de “Na Floresta do Alheamento
                                                                       Bernardo Soares

Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa) é um caminhante de si mesmo, percorre a sua vida assistindo com a inteligência do olhar, mas alheio ao sentir emocionado. Em Bernardo Soares, Pessoa revela a sua faceta itinerante pela vida, tão estranho de si como dos outros, desdobrando-se entre determinantes psicossomáticas que o obrigam a continuar a viver o dia-a-dia e a acuidade da sua inteligência especifica e particularmente cerebral, tornando-se um espectador de si e do mundo, como se fosse um espelho que reflete, simultaneamente, o seu eu para os outros e o mundo. No Livro do Desassossego, Pessoa afirma a sua falsa identidade e abstrai-se dos sentimentos, reconhecendo, paradoxalmente, a sua natureza paroxisticamente romântica. Ele próprio escreve que não quer sentir e amar porque sabe de antemão a decepção que o espera, consciente de não poder possuir, mas só assistir, num mundo em que a distância entre o seu eu intrínseco e o seu eu exterior é a mesma da que o separa da realidade envolvente. Através de Bernardo Soares, percebe-se claramente a estranheza de si inerente ao universo de Pessoa.

Sobre o Autor


"Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não."

Fernando Pessoa
(1888 - 1935)

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa tendo seu valor comparado ao de Camões.
O crítico literário Harold Bloom considerou-o, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX. Por ter vivido a maior parte de sua juventude na África do Sul, o inglês também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo, trabalhando, estudando e até pensando no idioma. Teve uma vida discreta, em que atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde se desfez em várias outras personalidades conhecidos como heterônimos. A figura enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre sua vida e obra, além de ser o maior autor da heteronímia.
Morre de problemas hepáticos aos 47 anos na mesma cidade onde nascera, tendo sua última frase escrita na língua inglesa: "I know not what tomorrow will bring...".